A Agricultura no mundo digital

Última atualização: 16/02/2024Por

A agricultura passou por algumas “revoluções” ao longo da história, primeiramente a “Revolução verde” onde passamos a utilizar fertilizantes e técnicas mais intensivas, permitindo altas produtividades mesmo em locais onde antes o cultivo era praticamente inviável. Fomos avançando nas técnicas, aprimorando os defensivos, máquinas e insumos utilizados, até que houve um novo salto com o início do uso dos transgênicos e a chamada “Revolução Biotecnológica”, o que fez com que a agricultura alcançasse outros patamares e possibilidades.

 

Enquanto alguns ainda se adaptam à biotecnologia, uma nova revolução está prestes a acontecer na agricultura, a “Revolução Tecnológica”. Um fenômeno que já causou revolução em muitas outras áreas (medicina, transportes, logística, financeiro, administração, etc.) e que aponta com ânsia para revolucionar o mercado agrícola. Um bom exemplo disso são os altos investimentos em startups de tecnologia voltadas ao agronegócio (mais de 1,27 bilhões investidos em 2017) e grandes marcas de tecnologia entrando no mercado agro (IBM, Bosch, Dell, GE, etc). Mas qual o real benefício que esta “revolução” poderá causar?

 

A tecnologia no campo irá gerar informações que auxiliarão os produtores a tomarem decisões baseadas em evidências e não mais em suposições empíricas. Por exemplo, um agricultor tem ideia hoje que a variedade A é melhor que a variedade B em determinada situação (por exemplo: sob déficit hídrico), mas com as informações corretas, ele irá saber exatamente quanto e em quais situações a variedade A é melhor que a B, podendo calcular com exatidão se o investimento irá ser compensado.

 

Estas informações farão com que todo o conhecimento que temos hoje relacionado à agricultura evolua de modo exponencial. No entanto, para isso realmente acontecer, os sistemas deverão não apenas apresentar as informações aos usuários e sim apresentar as recomendações que deverão ser efetuadas. Por exemplo, se o GPS do carro ao invés de informar exatamente qual a melhor rota a seguir fornecesse todas as rotas possíveis e deixasse essa decisão por conta do usuário, com certeza teria muito menos adeptos da tecnologia.

 

Os sistemas deverão ser capazes de compreender as informações e analisa-las, tomando a melhor decisão de maneira autônoma, para isso é necessária uma grande quantidade de dados (confiáveis) e que consigam monitorar todas as variáveis do processo de produção agrícola, que, por ser um sistema aberto, são muitas. Em uma fábrica de parafusos, por exemplo é possível saber exatamente a quantidade de parafusos que será produzida baseada em determinado investimento em matéria prima, pois todos os processos são controlados. É isso que a revolução tecnológica pode causar na agricultura: a garantia das melhores decisões de forma automatizada e a perfeita previsibilidade do retorno sobre o investimento efetuado.

 

Não digo que nós, Engenheiros Agrônomos ou outros profissionais da agricultura iremos perder nosso emprego para as máquinas, pois sempre existirão inovações e novas possibilidades para serem implementadas, mas a cultura do “achismo” irá acabar. Iremos trabalhar com inovações no “processo de produção” que será rastreado, e melhorado continuamente.

 

Eng. Agr. Me. Marcos Nascimbem Ferraz

Engenheiro agrônomo – ESALQ / USP

Mestre em Engenharia de Sistemas Agrícolas – ESALQ / USP

Sócio fundador das empresas Smart Agri e Smart Sensing Brasil, atuando com consultoria e desenvolvimento de soluções tecnológicas para a agricultura.